sábado, 24 de setembro de 2011
Notícias de uma guerra particular na Sessão Curta ao Sábado
Um dos mais polêmicos e comentados documentários da produção cinematográfica brasileira dos anos 1990, "Notícias de uma guerra particular" (1999, 56 minutos), de João Moreira Salles e Kátia Lund, é atração da “Sessão curta ao Sábado” deste fim de semana, dia 24 de setembro, às 18 horas, no Auditório do Centro Cultural da UFMT. Entrada gratuita e pipoca grátis. Classificação indicativa: 18 anos.
O filme
“Notícias de uma Guerra Particular” (Brasil, 1999), primeira e mais importante radiografia profunda da questão do tráfico de drogas e armas no Rio de Janeiro, levou seis anos para ganhar a rua. De qualquer forma, a contundência dos depoimentos e a discussão franca, aberta e sem maniqueísmos continuam a fazer do média-metragem um dos melhores títulos brasileiros dos últimos anos.
Trata-se, na verdade, de um filme referencial, desses que impõem modificações ao próprio tratamento do tema a que se filia. O filme de João Moreira Salles e Kátia Lund (que, graças a esse filme, seria co-diretora de “Cidade de Deus” pouco depois) traça um painel do problema do tráfico nas favelas cariocas enfocando o problema com uma abordagem original: o tráfico seria uma espécie diferente de guerra urbana, travada entre policiais e traficantes, tendo no meio do fogo cruzado os moradores mais humilde e socialmente excluídos. Os dois cineastas levaram dois anos (1997 e 98) garimpando depoimentos dos três lados e editando-os, sem preferências ou tomadas de posição.
Desse esforço ímpar de ouvir todos os lados da questão de maneira eqüidistante, emergem alguns depoimentos impressionantes, como o de um menino de 10 anos, “soldado” de traficantes do morro Dona Marta, que empilha com naturalidade uma porção de armas pesadas – inclusive um lança-granadas – de uso proibido pela população civil, demonstrando conhecer de cor os modelos, a origem de fabricação e o calibre de cada uma delas, inclusive enumerando detalhes técnicos que passariam despercebidos até à especialistas no assunto.
Outras entrevistas de destaque vêm do capitão Rodrigo Pimentel, jovem e experiente policial militar, que faz o raciocínio sobre a “guerra particular” cujo conceito inspirou o título do filme, e do chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro na época do documentário, Hélio Luz. Com uma franqueza desconcertante, o delegado explica sua tese: a Polícia no Brasil foi feita para ser corrupta e violenta, e não muda porque a elite não deseja mesmo a mudança. “A Polícia foi construída para proteger a elite da multidão de excluídos que vive nos morros, e cumpre essa função com eficiência”, afirma, com o semblante melancólico e desiludido de quem, três meses depois, pediria demissão e sairia da força policial para sempre.
A importância de “Notícias de uma Guerra Particular” vai além do seu mérito cinematográfico, pois comprova que um filme, a rigor uma simples peça de entretenimento, pode extrapolar essa condição e se transformar em item educacional de caráter quase obrigatório. Ao entrar de peito aberto nas favelas e dar voz aos traficantes, às crianças exploradas pelo tráfico, aos moradores que convivem diariamente com a morte, os dois diretores estavam entrando em um território virgem, espécie de Brasil ainda não desbravado pelas forças oficiais ou pelos meios de comunicação.
Na verdade, “Notícias de uma Guerra Particular” abriu a porteira para obras como o livro “Abusado”, de Caco Barcellos, ou o excelente documentário “Ônibus 174”, que aprofundou ainda mais a discussão do tema. Sem o filme de Moreira Salles e Lund, talvez a compreensão do problema do tráfico no Brasil não fosse tão ampla e profunda. Esse mérito, inclusive, empalidece pequenos problemas estéticos ou técnicos (a trilha sonora repetitiva e às vezes melodramática, a captação deficiente de áudio que deixa certos trechos quase incompreensíveis) que o filme enfrenta e vence sem problemas.
Serviço
A “Sessão Curta ao Sábado” faz parte do Programa Unidade, desenvolvido pela Pró-reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (Procev), com a finalidade de dar ênfase às expressões culturais que envolvam a comunidade universitária e a sociedade cuiabana, em atividades realizadas no campus da UFMT. A ideia é estimular o público a vivenciar os espaços da universidade, oferecendo uma programação que desperte o interesse pelo cinema brasileiro, formando novas plateias. O projeto é organizado por estudantes e professores da habilitação Radialismo do Curso de Comunicação Social da UFMT.
As exibições são realizadas a partir do Acervo do Cineclube Coxiponés e do Catálogo Programadora Brasil, projeto da Secretaria do Audiovisual (SAV), em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Centro Técnico-Audiovisual (CTAV). A ação conta com a chancela do Programa Cine Mais Cultura/Minc e é apoiada pela Adufmat – Associação dos Docentes da UFMT. Confira a programação no blog do projeto www.curtaosabado.blogspot.com. Solicite a programação no e-mail curtaosabado@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. .
As exibições acontecem no Auditório do Centro Cultural da UFMT, que conta com ambiente climatizado. O Auditório está localizado na Rua 1 (Avenida Alziro Zarur, s/nº, ao lado da Caixa Econômica), bairro Boa Esperança. Mais informações: (65) 3615-8377 (Cineclube Coxiponés/UFMT).
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