segunda-feira, 14 de junho de 2010

Entrevista com Felippy Damian - Roterista de "Colapso Narciso"



Felippy Damian (19),
estudante de Publicidade e Propaganda da UFMT
e roteirista do vídeo “Colapso Narciso”,
realizado pelo Núcleo Céllula,
fala sobre a gravação e os conceitos
presentes no curta-metragem.

Por Dafne Spolti*

Como surgiu a idéia de fazer o roteiro do “Colapso Narciso”?

O Maurício Falchetti, diretor do filme, me procurou e falou ‘Cara, escreve uma história’. Disso tive algumas idéias de conceitos que tenho, de observar as coisas mesmo...

Esse vídeo fala de vaidade? Qual é o conceito que vocês trabalham em Colapso Narciso?

Então. A gente trabalha bastante isso da vaidade. É um conceito que norteia bastante meus pensamentos, muito por observar as pessoas com quem convivo, a sociedade de uma maneira geral, até economicamente, socialmente. Mas é também por me analisar. Eu me considero um cara vaidoso. Quando era pequeno, eu tinha uma nóia. Eu achava que o mundo era uma conspiração e que todas as pessoas existiam em função de mim. Se eu passasse, por exemplo, numa obra, assim que eu virasse as costas as pessoas parariam de trabalhar e tal. Era uma coisa de criança mesmo, mas que eu sempre vi na minha vida. Achar que tudo gira em torno do meu próprio umbigo.

Você sempre imaginou o Falchetti como diretor?

Desde o começo a gente já tinha a idéia de o Falchetti dirigir e eu fazer o roteiro. Ele e outras pessoas tiveram importantes participações no roteiro e para a direção até chegamos a cogitar uma parceria, mas combinamos que ele faria a direção, até para fazer um mix das duas visões, dessa dualidade roteirista-diretor. É muito interessante porque a obra tinha a minha visão e agora a obra tem a visão dele. A gente tem bastante divergências quanto ao olhar para o cinema. Digamos que ele curte mais uma coisa “blockbuster” e eu mais uma coisa alternativa...

No final das contas, no processo de gravação, vocês conversaram muito para chegar num consenso sobre as idéias ou vocês realmente fizeram cada um o seu papel de diretor e roteirista?

Bom, esse é um tema que foi difícil pra mim. O roteiro é meu, basicamente, mas outras pessoas ajudaram bastante. Durante a gravação eu fui continuista e assistente geral. A gente sempre dava alguns pitacos, mas a direção foi basicamente dele, ele tinha autonomia para fazer. Tanto que se a direção fosse minha, muitas coisas seriam diferentes. Não sei se melhores ou piores, mas diferentes.

As pessoas ficam um pouco confusas com a história. Isso era o objetivo de vocês?

Não sei se deixar confuso seria o certo, mas fazer com que as pessoas pensassem. A gente não queria dar nada digerido pras pessoas. Talvez perturbação seja a palavra. Pra que as pessoas colocassem uns pontos de interrogação, pra que esses pontos incomodassem as pessoas, para que elas realmente refletissem sobre isso... De alguma forma colocá-las diante do espelho, né?

O “Colapso Narciso” tem uma cena que aparece sangue, uma forte. Você colocou isso no roteiro ou isso surgiu na hora?

Eu tenho uma aproximação muito grande com o bizarro. Eu gosto do impressionismo que o bizarro traz. Um diretor que eu curto muito é o David Linch, e ele soube usar muito bem isso nos filmes dele e tal. Mas a questão do sangue, da cena forte, é mais de caráter impressionista, pra chocar mesmo e tal. Mas a quantia de sangue, a maquiagem, já vem do diretor, que ele gosta bastante dos efeitos. Então é um misto. Mas é do roteiro a questão da morte. A leitura foi feita pelo diretor.

A equipe trabalhou com afinação ou teve muitas divergências

Falar que não teve discussões é mentira, mas a gente pode dizer que houver uma harmonia bem legal, sim. Foi bem legal porque não teve o lance de ego. Os atores são super tranqüilos. Eu também podia ter esse conflito de vaidades com o diretor, mas isso não rolou porque foi o primeiro roteiro que escrevi e a forma de eu escrever roteiro é muito influenciada pelo Maurício Falchetti. As técnicas que uso aprendi com ele. Então sempre existiu aquilo de saber que é uma primeira coisa que a gente está fazendo e que outras pessoas tem mais experiência. Enfim, deu tudo certo.

Como foram escolhidos os atores?

Quando viajamos para São Paulo para participar de uma feira de tecnologias, o Chicó começou a fazer umas imitações, umas palhaçadas. Aí convidamos ele para o filme. Quanto ao Caio Mattoso, uma sugestão da Caju, foi uma atuação que eu gostei bastante também. Corresponderam bem as atuações.

Aquela cena que os personagens correm à noite, imagino que tenha sido difícil fazer...

Foi difícil, eles tiveram que correr bastante. Chegou uma hora que ficaram muito exaustos e também tinha o perigo de eles se machucarem de verdade. Eles não estavam acostumados, não são atletas, né (risos). Mas estavam bem dispostos, não rolou cachê pra ninguém, então foi mais o propósito mesmo de fomentar o audiovisual...

O que vocês conseguiram de patrocínio e equipamentos?

Conseguimos um pouco de dinheiro com as vendas das camisetas, durante a viagem para São Paulo. Mas grana mesmo a gente não conseguiu. Conseguimos lugares para comer. Comemos bem pra caramba. Foi no Serra, no Gato Mia e Choppão. Então tipo, a gente comeu bem, né?! E também a gente conseguiu dois fresnéis, lá na Monkey. Aí a gente usoumarmitas e tripés aqui da UFMT mesmo. Mas conseguimos pouca coisa aqui da universidade...
Você gostou do resultado do vídeo?

Gostei, gostei bastante! Bem satisfatório.

Vocês irão gravar outro vídeo? Quais são os planos?

O coletivo, que é o Núcleo Céllula vai continuar. A gente tem ótimas expectativas pra ele. Estamos parados, mas queremos produzir no mês que vem, ainda, um vídeo bem diferente mesmo. A gente não quer uma estética como a do “Colapso Narciso”, queremos uma estética mais underground. E nesse filme estarei dirigindo. Não sei como vou fazer isso, estou bem ansioso para saber como lidar com isso. Mas a estética é muito da proposta de trabalhar com o bizarro, com uma dose muito forte. Vamos abordar temas sociais, econômicos. É um filme que não considero tão denso qanto o “Colapso Narciso” mas é bem carregado. Mais uma vez vai trabalhar o lance da vaidade, mas dessa vez como um segundo plano.

*Estudante de jornalismo e bolsista do Cineclube Coxiponés - UFMT

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